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Opinião

«Os doutoramentos em Enfermagem trouxeram enormes contributos para a família do SNS»


Pedro Melo

Especialista em Enfermagem Comunitária. Professor auxiliar convidado do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica Portuguesa



Como membros da mesma família, o SNS e a Enfermagem atravessam o desenvolvimento de tarefas fundamentais para a transição para a etapa seguinte da sua vida familiar.

O SNS, adulto com 40 anos, encontra um processo de estruturação experiente, mas jovem, com um enquadramento legal e organizacional favorável ao sucesso.

Uma rede de cuidados de saúde primários organizada em torno das necessidades dos clientes, cuidados diferenciados de qualidade quer do ponto de vista tecnológico, quer humano, e um investimento crescente nos cuidados continuados integrados e cuidados paliativos. Também a melhoria no processo de integração de cuidados, com a evolução dos sistemas de informação, os processos de contratualização interoperáveis entre níveis de cuidados são uma conquista no quadragésimo aniversário do SNS.

A Enfermagem portuguesa, mais jovem no que respeita à autorregulação (22 anos), encontra na sua história centenária, enquanto profissão, contributos que a tornam uma jovem adulta independente, responsável e capaz de se desafiar a si mesma na resposta à família que partilha com o SNS.

Tem a sua identidade bem definida, com um enquadramento legal robusto, especialidades e competências de que os portugueses podem usufruir bem identificadas e um sentido de pertença e contributo insubstituível para o desenvolvimento do SNS. Os doutoramentos em Enfermagem trouxeram enormes contributos para a família, com o seu conhecimento próprio produzido enquanto ciência.


 Existem atualmente em Portugal mais de 300 Doutores em Enfermagem (Fotos: cortesia da Universidade Católica Portuguesa)


Se pensarmos em parentesco, o SNS e a Enfermagem serão irmãos. Enquanto irmã, a Enfermagem acompanhou e partilhou a energia de um SNS jovem em busca de desenvolvimento. Esteve sempre lado a lado com os desafios do SNS.


Soube dar-lhe resposta e adaptar-se com grande sentido de pertença e zelando pelo seu próprio desenvolvimento, em torno das necessidades dos clientes.

Hoje, no ano 2020, vivemos mundialmente um desafio que soube demonstrar a maturidade de ambos. Um SNS que respondeu de forma exemplar à covid-19, mas soube também adaptar-se para garantir a continuidade de todos os outros cuidados a todas as outras necessidades dos cidadãos portugueses. Uma Enfermagem que mobilizou a sua força para responder de forma especializada a todos os desafios e demonstrou que é um elemento forte e insubstituível da família.

A Família encontra-se na etapa de desenvolvimento da “família com filhos adultos”. Os seus pais são o Ministério da Saúde e a Assembleia da República. Os avós Democracia e Estado Português deixaram um testamento maravilhoso chamado Constituição da República Portuguesa.


Pedro Melo

Precisam agora de olhar para estes filhos com sentido de respeito e paternalismo libertário.

Precisam que a Enfermagem tenha condições de se emancipar financeiramente para mostrar à família os recursos que vai produzir a partir daí e de lhe atribuir uma maior responsabilidade nas decisões sobre os cuidados de saúde, na possibilidade de ser livre na prescrição dos seus cuidados e no seu envolvimento pleno nas decisões sobre o presente e o futuro da família.

Precisam que o SNS use as ferramentas de que dispõe hoje, para se tornar mais forte, ainda mais acessível e em coerência com o direito constitucional da saúde herdado dos seus avós.

Precisam aprender a viver numa simbiose ecossistémica com o privado, sendo mais competitivo, mantendo-se público e tendencialmente gratuito. Assim, manterá a sua identidade na história da família.

Enfermagem e SNS serão, assim, dois irmãos que saberão honrar o Estado Português e a Democracia e orgulhar o Ministério da Saúde e a República Portuguesa, que evoluirão dos aplausos, para libertar as mãos para as dar a ambos e os ajudar a continuar o caminho.



Artigo publicado na edição de junho do Jornal Médico dos cuidados de saúde primários.

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