«O apelo do Hospital Público - as fragilidades preexistentes não desapareceram, foram até acentuadas»

Desde a primeira edição que o Hospital Público tem enaltecido o melhor dos serviços públicos de saúde, destacando profissionais e equipas pelos seus resultados de excelência. A pandemia revelou o elevado valor e capacidade dos serviços públicos para responderem prontamente a uma situação de emergência.

Contudo, apesar do esforço e sacrifício de tantos, as fragilidades preexistentes não desapareceram, foram até acentuadas. Basta analisarmos os resultados da quebra de acesso aos doentes não covid, ou o acentuar de sinais de rutura um pouco por todas as instituições.

Na ressaca da pandemia, existe uma real oportunidade de mudança. Não é certamente através de medidas e investimentos pensados há 20 ou 30 anos que iremos ultrapassar todas as nossas deficiências e preparar o futuro. Temo mesmo que, ao contrário do que alguns pensam, despejar euros, garantir contratações avulsas e publicar normativos para cumprir agendas extra-SNS apenas irá agravar esta crise estrutural, descredibilizar o serviço público e limitar a capacidade de transformação.


Alexandre Lourenço

Dia 17 de outubro foi publicado no jornal Público o apelo “Serviço Nacional de Saúde: salvaguardar e reforçar, transformando”, do qual sou subscritor. É um apelo ao contributo e ação de todos, dada a urgência do reforço e das transformações necessárias do SNS. Convido-vos a ler o apelo em que constam oito aspetos críticos a abordar simultaneamente:

• Acesso aos cuidados – Direitos e deveres dos cidadãos
• Integração de cuidados centrada na Pessoa e suas circunstâncias
• Análise e direção estratégica
• Política para as profissões de saúde
• Governança da saúde e formação de dirigentes
• Sistema de informação e de gestão do conhecimento
• Financiamento, investimento e modelo de governação

Coexistência regulada entre o setor público solidário, o setor social e a atividade privada de mercado

(...) A resposta aos desafios da atualidade requer que um Estado inteligente e uma “sociedade civil” ativa se constituam como duas faces de um mesmo processo. Para isso, é fundamental desenvolver competências para a gestão da mudança no sistema complexo que é o SNS e promover a transição de construções hierarquizadas para comunidades horizontais inteligentes, interdependentes e colaborativas, disponíveis para os riscos, turbulências e incertezas associados a estes processos.

O aperfeiçoamento da comunicação, interna e externa, e o desenvolvimento de mecanismos de participação, a todos os níveis, são requisitos críticos para a mudança desejada.

A tomada de consciência e a caracterização mais precisa dos desafios, sendo condição necessária, não é suficiente. É imprescindível atuar de modo articulado e concertado em todos
eles, gerindo as consequências que cada mudança num ponto suscite ou determine nos restantes pontos do todo sistémico.

A educação para a cidadania, que inclui a educação para a saúde e a defesa do SNS, são fatores promotores da solidariedade social e da saúde. Estamos perante uma responsabilidade coletiva de um vasto conjunto de atores com níveis e naturezas de responsabilidade diversas, mas em que cada um tem um papel a desempenhar.

São urgentemente necessários uma estratégia, um discurso e ações de mudança que reacendam a esperança no futuro do Serviço Nacional de Saúde. Em cada um de nós reside a capacidade de transformação.

É necessário atuar já!



O artigo pode ser lido na edição de setembro/outubro do jornal Hospital Público.

Dirigida a profissionais de saúde e distribuído em serviços e departamentos de todos os hospitais do SNS, esta publicação da Just News tem como missão a partilha de boas práticas, de boas ideias e de projetos de excelência desenvolvidos no âmbito do SNS, facilitando a sua replicação.