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Opinião

Úlcera por pressão: «um problema grave, escondido no interior de muitas casas»


Paulo Ramos

Enfermeiro, USF Corino de Andrade, ACES Póvoa de Varzim, Vila do Conde



A úlcera por pressão (UPP) é uma lesão da pele e/ou tecido subjacente, normalmente, sobre uma proeminência óssea em resultado da pressão, ou da combinação desta com forças de torção.

As UPP também estão associadas a vários fatores contribuintes e de confusão, cujo papel ainda não se encontra totalmente esclarecido. Esta definição é internacionalmente aceite e consta das guidelines internacionais de prevenção e tratamento de 2014, que serão novamente publicadas em 2019.

A presença de uma UPP tem um impacto na morbilidade e mortalidade da pessoa, chega a aumentar cerca de três vezes a mortalidade hospitalar e origina um incremento no tempo de internamento de 6,4 dias.

Existem três fatores de risco diretamente associados às UPP, a imobilidade, a presença de uma UPP e a má perfusão. Qualquer pessoa que apresente alguma condição clínica que provoque algum grau de imobilidade (parcial ou total) e compromisso da circulação está em risco de desenvolver uma UPP.

A presença de dispositivos médicos também é relevante, cada vez mais temos pessoas nos domicílios, com cateteres, sondas, talas, ortóteses, dispositivos de ventilação não invasiva.

A compressão da pele e do tecido subjacente pelo dispositivo pode originar uma UPP. No contexto domiciliário, também representa um enorme fardo quer para a família/cuidador informal, quer para os serviços de saúde.



A UPP, neste contexto, poderá surgir no próprio domicílio ou ter origem numa instituição de saúde que, após resolução de uma complicação aguda, dá alta e os cuidados são mantidos no domicílio. Em ambas as situações a pessoa com UPP e o cuidador estão sobre enorme stresse.

No primeiro caso, o cuidador sente que não foi capaz de evitar a presença da ferida, acompanhado de um sentimento de impotência e falha no seu papel, podendo levar a sobrecarga e incapacidade de continuar a desempenhar esta função. Já quando a pessoa vem de outro local com a UPP, existe um sentimento de revolta, por parte do cuidador, contra a instituição de saúde e culpabilização da mesma pela situação.

É neste contexto que as equipas de saúde familiar intervêm, na prevenção e tratamento das UPP existentes, sendo o enfermeiro o primeiro profissional a intervir.

O papel de enfermeiro passa por ajudar o cuidador/pessoa com UPP no processo de tratamento e prevenção de novas UPP, articulando com outros profissionais da equipa (médico, nutricionista, assistente social) para que se consiga atingir o objetivo do tratamento.

Neste processo o papel do cuidador é fundamental. Sem cuidadores capazes de posicionar, prestar cuidados à pele, alimentar e vigiar o estado geral da pessoa com UPP não se consegue prevenir nem tratar pessoas com UPP no domicílio.

A úlcera por pressão no contexto domiciliário acarreta, para além de custos económicos (material de penso, medicação de suporte, tempo do enfermeiro e deslocações ao domicílio), um real impacto na qualidade de vida de pessoa e do seu cuidador.

A UPP provoca dor, apresenta muitas vezes exsudação abundante que repassa do penso, odor intenso que leva ao isolamento social e a não querer visitas em casa. O tratamento de uma UPP é um processo demorado, pode durar meses, ou até não chegar a cicatrizar.

Existe uma elevada taxa de infeção das UPP, que pode conduzir a septicemia, situação clínica potencialmente fatal.

A UPP constitui um problema grave de saúde pública, cuja dimensão ainda não conhecemos na sua totalidade, pois, ele está escondido no interior de muitas casas!


Artigo publicado no Jornal Médico dos cuidados de saúde primários de janeiro.

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