Opinião
«Os Centros Clínicos Universitários teriam um papel fundamental na dinamização económica e social»
Xavier Barreto
Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH)
A recente proposta de criação de Centros Clínicos Universitários (CCU) surge como uma resposta inovadora à crescente necessidade de harmonizar a prestação de cuidados de saúde com o avanço científico e académico no contexto do SNS.
Ao conciliarem proximidade assistencial, forte componente formativa e investigação de ponta, estes centros poderiam proporcionar ganhos efetivos para os utentes e para o sistema de saúde em geral.
A adoção de estratégias conjuntas entre cuidados primários e hospitalares permitiria agilizar diagnósticos e tratamentos, enquanto a vertente académica impulsionaria a criação de soluções terapêuticas mais eficazes. Assim, consolidar-se-ia a visão de que ciência e prática clínica poderiam caminhar lado a lado para elevar a qualidade do SNS.
Um dos principais diferenciais dos CCU residiria na sua capacidade de criar um novo ecossistema de inovação. A participação ativa de investigadores, universidades e centros de investigação tornaria possível uma rápida transposição das descobertas científicas para a prática médica diária. Esse ambiente colaborativo reforçaria a formação contínua dos profissionais de saúde, permitindo-lhes acompanhar o ritmo acelerado da evolução do conhecimento.
Ao mesmo tempo, fomentar-se-ia a multidisciplinaridade, garantindo que o processo de cuidados abrangesse desde a prevenção até aos tratamentos mais complexos, sempre suportados por evidências sólidas.
Xavier Barreto
Para além do impacto assistencial, os CCU teriam um papel fundamental na dinamização económica e social. A presença de profissionais altamente qualificados e a atração de projetos de investigação e desenvolvimento contribuiriam para gerar empregos especializados e para a criação de oportunidades de negócio na indústria farmacêutica, biotecnológica e de engenharia biomédica.
Esse círculo virtuoso fomentaria a competitividade do país, ao mesmo tempo que consolidaria a reputação dos CCU como polos de conhecimento avançado. A adoção de um modelo de financiamento adequado à complexidade e aos resultados dessas unidades reforçaria ainda mais a sua capacidade de promover valor em todo o território.
Finalmente, a aposta num modelo de governação que combinasse visão estratégica e autonomia operacional poderá ser essencial para o sucesso dos Centros Clínicos Universitários. Tal estrutura garantiria decisões céleres e eficazes, mantendo sempre o foco na excelência formativa e na prestação de cuidados de saúde de qualidade.
Ao unificar assistência, ensino e investigação num único espaço de atuação, os CCU representariam uma aposta sólida no futuro do SNS e na competitividade global do país. Será, por isso, fundamental que todos os atores políticos e institucionais se unam para consolidar esta iniciativa e garantir o bem-estar de toda a população.
O artigo pode ser lido na edição de março do Jornal Médico.