Opinião

«A crise das urgências em Portugal»


Xavier Barreto

Presidente da Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH)



As urgências hospitalares em Portugal estão a atravessar uma crise profunda, marcada por sobrecarga, escassez de recursos e insatisfação tanto de profissionais de saúde como de pacientes. Esta situação, que não é nova, tem vindo a agravar-se nos últimos anos, refletindo as falhas estruturais do nosso sistema de saúde e a necessidade urgente de soluções inovadoras e eficazes.

O que esta crise revela é uma falha sistémica na capacidade de planeamento e gestão dos serviços de saúde. A resposta à pressão nas urgências tem sido, muitas vezes, reativa e não proativa. Medidas paliativas, como o aumento de horas extraordinárias ou o recurso a prestadores de serviço, embora necessárias em situações emergentes, não oferecem uma solução sustentável a longo prazo.

Na verdade, a crise das urgências é sintoma de um problema maior: a incapacidade do sistema de saúde para evoluir de acordo com as necessidades da população. O planeamento a longo prazo, baseado em dados reais e em projeções precisas, é essencial para evitar que crises como esta se repitam no futuro.

Importa, pois, desenvolver e implementar medidas estruturadas e responsivas, que permitam que, a médio prazo, o problema possa ser mitigado.


É urgente rever a rede de urgências em Portugal, incluindo não apenas uma redistribuição dos recursos existentes, mas também uma reavaliação das infraestruturas e capacidades dos hospitais.

É fundamental avançar mais rapidamente na integração de tecnologia como forma de melhorar processos de trabalho nos serviços de urgência. A adoção de sistemas de inteligência artificial que possam ajudar a identificar rapidamente os casos que realmente necessitam de atendimento
urgente ou o uso mais alargado de telemedicina para avaliar e tratar os casos menos graves podem ter um impacto muito significativo no circuito do doente agudo.


Xavier Barreto

É premente avançar mais rapidamente na valorização dos profissionais de saúde. A crise das urgências é, em grande medida, uma crise de recursos humanos.

A falta de médicos e enfermeiros, agravada pela emigração de profissionais qualificados para outros países, exige uma resposta urgente. É necessário melhorar as condições de trabalho, oferecer incentivos para que os profissionais permaneçam em Portugal e investir na formação contínua e no recrutamento de novos profissionais.

Somente com uma estratégia bem definida e uma execução eficaz será possível garantir que as urgências hospitalares possam cumprir o seu papel essencial: salvar vidas e prestar cuidados de qualidade a quem mais necessita.



O artigo pode ser lido na edição de setembro do Jornal Médico dos Cuidados de Saúde Integrados.

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