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Programa Stent for Life: são tratados mais doentes com enfarte, mas ainda de forma tardia

Cinco anos após a implementação em Portugal do programa Stent for Life (SFL), que tem como intenção reduzir a mortalidade por enfarte agudo do miocárdio (EAM), a população começa já a saber de que se trata e o que fazer no caso de suspeita de uma síndrome coronária aguda. Por outro lado, de acordo com Hélder Pereira, seu coordenador nacional, há hoje mais doentes tratados, embora o tratamento ainda se inicie tarde.

Em entrevista à Just News, a ser publicada na próxima edição de LIVE Cardiovascular, Hélder Pereira explica que, em Portugal, o número de angioplastias primárias (melhor terapêutica atual para tratar o EAM) tem vindo a aumentar: "Há cerca de uma década, éramos um dos países com uma taxa muito baixa, menos de 200 por milhão/ano. Presentemente, estamos acima das 350 por milhão/ano e os nossos números são semelhantes aos da média europeia."

Contudo, "menos bons são ainda os resultados relativos ao tempo que o doente leva até pedir ajuda, o chamado atraso do doente, assim como a percentagem daqueles que ligam para o 112. Mas, mesmo nesta matéria, temos vindo a melhorar”, refere Hélder Pereira, coordenador do SFL Portugal, em jeito de balanço.



Recorde-se que o projeto SFL resulta de uma iniciativa conjunta da Associação Europeia de Intervenção Cardiovascular Percutânea (EAPCI) e da EuroPCR, para melhorar o acesso dos doentes à angioplastia primária. Para que esta seja eficaz, é fundamental que o procedimento seja efetuado idealmente até 90 minutos após o início dos sintomas. Em Portugal, o projeto foi implementado pela Associação Portuguesa de Cardiologia de Intervenção (APIC), que integra a Sociedade Portuguesa de Cardiologia.

Segundo Hélder Pereira, se tiver sucesso, este programa pode salvar vidas, “usando aquilo que temos com base num processo educacional da população e dos profissionais”. 

Projetos em desenvolvimento


Neste momento, decorrem vários projetos e estão a ser lançadas novas iniciativas dentro do SFL, sendo que a campanha NÃO PERCA TEMPO – SALVE UMA VIDA mantém-se, tendo vindo a contar com a colaboração de várias figuras públicas, como a Rita Blanco e o Carlos Malato.

Sobre esta iniciativa, é de referir que foi recentemente pedida uma audiência à presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo, Rosa Valente de Matos, que mostrou uma grande disponibilidade para que a mensagem desta campanha seja veiculada através dos centros de saúde, assim como para que se possa desenvolver um projeto educacional focado nos médicos de Medicina Geral e Familiar.

Por outro lado, o programa StentNetworkMeeting, que visa reunir os vários stakholders do tratamento do enfarte, e que teve o seu auge em 2014/5, irá voltar com reuniões a programar em vários hospitais.

Além disso, o projeto educacional STEMINEM, que tem sido coordenado por Sílvia Monteiro, cardiologista do CHUC, “tem tido um sucesso extraordinário”, bem demonstrativo daquilo que uma parceria SFL-APIC e o INEM pode fazer no âmbito da formação dos profissionais”, conta.



STEMINEM: Sílvia Monteiro (2.ª à direita) com grupo inicial que contribuiu para a organização do projeto.

Também o projeto educacional STEMICARE, dirigido à formação dos profissionais dos serviços de urgência, igualmente coordenado por aquela especialista, deu os primeiros passos no último Congresso Português de Cardiologia. E brevemente serão iniciadas sucessivas reuniões no Norte do país, passando depois para o Alentejo e a região de Lisboa e Vale do Tejo, contando, para isso, com o apoio dos coordenadores do SFL das várias regiões: os cardiologistas Jorge Marques (Norte), Marco Costa (Centro), Pedro Sousa (Lisboa e Vale do Tejo), Renato Fernandes (Alentejo) e Jorge Mimoso (Algarve). 

Reduzir o número de paragens cardíacas em ambiente extra-hospitalar


Tendo em conta que, anualmente, se verificam 36 a 81 paragens cardíacas por 100 mil habitantes fora do hospital, numa altura em que há uma cada vez maior disponibilidade de desfibrilhadores automáticos externos (DAE), Hélder Pereira sublinha que é importante que as vítimas de paragem cardíaca em ambiente extra-hospitalar tenham a maior probabilidade de serem reanimadas e tratadas com êxito.

Foi por isso que o SFL- APIC propôs ao SFL europeu um programa, que foi aprovado e que visa não só aumentar o número de socorristas capacitados para o uso dos DAE como pretende conseguir que os doentes em que se obtém circulação espontânea tenham acesso rápido a hospitais com condições de seguir o tratamento, designadamente com Cardiologia de Intervenção. Para o sucesso de todo o projeto, será necessária uma forte parceria com o INEM. Do lado do SFL-APIC, este programa será coordenado pelo cardiologista Pedro Sousa, do Hospital de Santa Cruz (CHLO).

Ainda nesta área, Hélder Pereira manifesta ainda o interesse em que o SFL-APIC possa vir a ser um parceiro no novo projeto recentemente lançado nas escolas secundárias pelos ministérios da Educação e da Saúde.


Sofia de Mello, gestora de projeto do SFL, com Hélder Pereira.

Trabalhar numa “verdadeira parceria” 


O SFL baseia-se no voluntariado daqueles que participam no programa, mas é necessário algum investimento, designadamente para produzir materiais de divulgação para entregar aos doentes, e o apoio de alguém da comunicação que nos ajude a ter algum acesso aos media.

“Ao longo destes anos, as poucas empresas de dispositivos médicos que nos apoiaram deixaram de o fazer diretamente, o que nos veio complicar a missão”, menciona, desenvolvendo que, não obstante estas dificuldades, quer Hélder Pereira, quer Sofia de Mello, gestora de projeto do SFL, não perderam nenhum do entusiasmo inicial e todos os dias se dedicam ao programa, tentando encontrar soluções.

Na opinião de Hélder Pereira, os doentes com enfarte beneficiariam muito se fosse possível trabalhar numa “verdadeira parceria” com os vários órgãos da tutela, sobretudo nas ações de sensibilização da população.

Da parte do ministro da Saúde, Alberto Campos Fernandes, mesmo antes de ter assumido estas funções, o projeto recebeu um importante apoio e, presentemente, também já demonstrou disponibilidade para o apoiar, o que ainda só não aconteceu porque, com todas as que estão em desenvolvimento, ainda não foi possível propor-lhe ações concretas. Também com o INEM as relações e o apoio mútuo têm sido ”excelentes”.






A versão completa da entrevista com Hélder Pereira, onde são abordados vários outros temas e novidades, poderá ser lida na próxima edição de LIVE Cardiovascular.

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