Hospital Pedro Hispano: «internistas trabalham efetivamente em equipa»

O Serviço de Medicina Interna do Hospital Pedro Hispano – ULS de Matosinhos está integrado no Departamento de Medicina desde 1997, ano em que a unidade hospitalar foi inaugurada, substituindo o antigo Hospital Distrital de Matosinhos. Para Vasco Barreto, diretor do referido Serviço, a organização departamental é a situação ideal para o internista, pois, permite que este tenha muito contacto com o doente e com uma grande variedade de patologias, “a sua vocação essencial”.

“O Departamento de Medicina foi pensado para ter uma organização polivalente. O espaço físico do internamento é comum a todas as 13 especialidades médicas que o integram e os cuidados médicos são articulados verdadeiramente em torno das necessidades do doente, tendo a Medicina Interna o papel de ‘maestro’ em permanente colaboração com as outras especialidades médicas”, explica Vasco Barreto.



De acordo com o diretor do Serviço de Medicina Interna, este modelo organizacional é uma mudança de paradigma em relação à versão clássica que existe na maioria dos hospitais, no qual a área médica está separada em especialidades.

O diretor do Serviço de MI considera estranho que, 20 anos após a implementação deste modelo no Pedro Hispano, exista apenas mais um hospital público com uma organização semelhante (Beatriz Ângelo).

“É, assim, possível ao internista trabalhar efetivamente em equipa, com muita polivalência e sem perder o caráter mais clínico e a intervenção mais direta com o doente”, refere, frisando que “grande parte das decisões é tomada em equipa multidisciplinar”.



Segundo Vasco Barreto, além do tratamento dos doentes internados no Serviço, o internista colabora na assistência a todos os outros que estão distribuídos pelo Hospital, incluindo os da área cirúrgica.

Por sua vez, as outras especialidades médicas (Cardiologia, Neurologia, Imunohemoterapia, Pneumologia, Infeciologia, Dermatologia, Endocrinologia, Gastrenterologia, Oncologia, Nefrologia, Imunoalergologia e Hematologia Clínica) estão sempre disponíveis para prestar consultoria aos doentes internados, baseando a sua atividade essencialmente no ambulatório e na execução de técnicas de diagnóstico e terapêutica de tecnologia mais elaborada.



O nosso interlocutor defende uma mudança no modelo de apoio aos serviços cirúrgicos, por considerar que os internistas devem também estar ali em permanência, mudando a lógica do apoio a estes doentes de um modelo essencialmente reativo (consulta interna) para uma atitude proativa (cogestão).

Ainda este ano, iniciar-se-á um projeto numa lógica de cogestão com a Ortopedia, que Vasco Barreto gostaria de ver alargado a todos os doentes cirúrgicos.

Ligação aos CSP e alternativas ao ambulatório

Vasco Barreto destaca o facto de o hospital estar integrado numa ULS com quatro centros de saúde do concelho, o que facilita a gestão com os CSP, quer em termos de circulação de doentes, quer de transmissão de informação sobre os mesmos.

Apesar de considerar que há muito a fazer para melhorar a articulação com os CSP, o diretor do Serviço de MI afirma que “há áreas em que funciona de maneira exemplar, como, por exemplo, na dos Cuidados Paliativos, havendo uma equipa de apoio médico e de enfermagem ao domicílio que, apesar de neste momento não fazer parte do Serviço de MI, inclui internistas que já pertenceram ao mesmo”.



Em 2016, foi também iniciado um projeto do âmbito da Medicina Interna que inclui internistas, embora não pertença ao Serviço de Medicina Interna: a equipa de doentes crónicos complexos. Liderada por Maria do Céu Rocha, esta equipa pretende fazer o acompanhamento de um conjunto de doentes com multipatologias, polimedicados e vulneráveis selecionados que são hiperutilizadores das urgências e do internamento.

“É um projeto que se desenvolve tanto num regime de consulta aberta, cujo espaço será provavelmente partilhado com a Consulta de Reavaliação Precoce que o Serviço de MI iniciará em breve, como de apoio domiciliário e em articulação com os CSP”, indica Vasco Barreto.



Formação e investigação são áreas relevantes

O Serviço de Medicina Interna recebe habitualmente internos de todo o país com classificações elevadas, sendo um dos primeiros a esgotar as vagas, o que, na opinião de Vasco Barreto, se deve, provavelmente, à organização departamental.

“Temos uma estrutura formativa bem organizada. Todos os internos têm a possibilidade de apresentar trabalhos a nível nacional, publicar artigos e participar em trabalhos de investigação”, diz. Refira-se que o Serviço tem ligação a três faculdades de Medicina – FMUP, FMUL e Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) –, recebendo alunos das mesmas.



O Pedro Hispano tem um centro de ensaios clínicos que é um gabinete que faz a articulação entre os promotores dos ensaios e os serviços clínicos. O Serviço de MI está envolvido em alguns ensaios, sobretudo na área cardiovascular. Além disso, desenvolve estudos de investigação clínica e todos os internos estão envolvidos neste tipo de atividade.

Unidade de Cuidados Intermédios Polivalente

Luísa Guerreiro é coordenadora da Unidade de Cuidados Intermédios Polivalente (UCIP). Em declarações à Just News, a médica, que fez o internato complementar no Pedro Hispano, tendo começado ali a trabalhar em janeiro de 1994, refere ter a sorte de estar no sítio que escolheu.


A UCIP pertence ao Serviço de Medicina Interna desde que foi criada, tendo passado a ser polivalente em 2011, ou seja, além dos do Departamento de Medicina, recebe doentes em idade adulta de toda a instituição.


Luísa Guerreiro

“Aqui, o desafio de uma constante atualização é uma obrigatoriedade. Estes doentes e famílias estão mais fragilizados. Precisamos de estar seguros para transmitir a nossa experiência, a nossa calma e o prognóstico. Temos muita preocupação em falar com os familiares. Um dia destes somos nós os próprios doentes ou a família dos doentes e o respeito e preocupação com a família é uma missão que temos de ter”, refere Luísa Guerreiro.

E sublinha: “Todas os que trabalham na Unidade, desde médicos a enfermeiros, auxiliares, secretários clínicos e até a senhora que faz a limpeza, são muito motivadas e estão muito sintonizadas. Não há pessoas dispensáveis ou que tenham uma tarefa menos importante. Todas têm o seu papel e isso também faz a diferença.”



Unidade de HTA e Risco Cardiovascular: “centro de excelência”

José Alberto Silva é o coordenador da Unidade de HTA e Risco Cardiovascular do Pedro Hispano. Começou a trabalhar no Hospital Distrital de Matosinhos em 1987. Nessa época, foi criada uma Consulta de Hipertensão que, numa fase inicial, funcionou em colaboração com a Consulta de Hipertensão do Hospital de São João. Foi a primeira a ter MAPA, em 1989, que começou depois a realizar para o exterior.

Em 1997, quando foram inauguradas as instalações do Pedro Hispano, a Unidade assumiu a sua diferenciação, tendo Jorge Polónia integrado a equipa.


Loide Barbosa e José Alberto Silva

É uma das três unidades do país reconhecidas como “centro de excelência” pela Sociedade Europeia de Hipertensão. As consultas são feitas por José Alberto e Silva e Jorge Polónia. A técnica Loide Barbosa é responsável pela realização da MAPA, da medição de onda de pulso e tonometria de aplanação, exames que “permitem avaliar a repercussão vascular da doença hipertensiva”.

Os exames são realizados não só aos doentes da Unidade, mas a todos os que fazem parte da ULSM, sendo assim o único centro do País que realiza exames para os doentes dos centros de saúde que pertencem a uma ULS.

Doenças Autoimunes: Núcleo acompanha centenas de doentes

Em 2008, foi criado o Núcleo de Imunologia Clínica e de Doenças Autoimunes (NICDAI) do Serviço de MI do Hospital Pedro Hispano. Começou por ser coordenado por José Keating, que mais tarde veio a ser substituído nas funções por Anabela Ferreira.


Anabela Ferreira

Este Núcleo nasceu de um grupo de internistas com interesse em doenças autoimunes, que sentiu a necessidade de discutir em grupo doentes complicados deste foro, contando inicialmente, muitas vezes, com a colaboração da Unidade de Imunologia Clínica do Hospital de Santo António, conforme indica a coordenadora do NICDAI, que integra a equipa desde o início.

A coordenadora do Núcleo espera que a Consulta Externa de Doenças Autoimunes também seja oficializada em breve, embora, “na prática, atualmente, os doentes já estejam a ser canalizados para os médicos que se dedicam a esta área, sendo acompanhados pelo Núcleo centenas de doentes”.



A reportagem completa sobre o Serviço de Medicina Interna do Hospital Pedro Hispano pode ser lida na atual edição de LIVE Medicina Interna, que acaba de ser lançada.

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